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24/04/2013

Leite de cabra - Oportunidades de negócio

A produção de leite caprino vem se consolidando como importante atividade pecuária no Brasil, principalmente para o pequeno produtor, que emprega mão-de-obra familiar, pois possibilita criação intensiva, maximização do uso do solo, além da facilidade de manuseio dos animais. Um fator que contribui para este mercado, além do preço atrativo do leite para o produtor, é a crescente preocupação com a alimentação e saúde humana, uma vez que o leite de cabra é considerado um alimento nutritivo, saudável e funcional.


Frente ao panorama atual de redução do tamanho das propriedades rurais, com consequente elevação nos custos da terra e insumos, a criação de cabras apresenta algumas vantagens competitivas em relação às demais atividades agropecuárias.

Os sistemas de produção de leite caprino e bovino no Brasil são muito semelhantes, com animais criados a pasto, semiconfinados ou confinados, e diferentes níveis de adoção de tecnologia. Entretanto, como a cabra é um pequeno ruminante (peso adulto variando de 40 a 80 kg), são reduzidas as necessidades em termos de área destinada à criação, instalações, recursos para aquisição do plantel, volume de alimento e insumos. Além disso, o preço pago ao produtor pelo leite chega a ser o dobro do valor do leite de vaca. 

Outras características importantes dos caprinos são: 
  • Seletividade: habilidade para mover os lábios e língua, o que lhes permite selecionar as porções mais nutritivas dos alimentos; 
  • Rusticidade: adaptam-se às mais diversas condições de clima e relevo, podendo ser criadas em áreas consideradas inapropriadas para a atividade agropecuária, como morros, solos rasos e pedregosos;
  • Prolificidade: é comum a ocorrência de partos duplos e triplos, interessante tanto para a reposição de animais no rebanho, quanto para a comercialização de matrizes e carne de cabritos, fornecendo renda complementar à atividade leiteira;
  • Produtividade: uma cabra de raça especializada, produzindo em média 2,5 litros de leite, equivale a uma vaca produzindo 25 litros de leite; 
  • Persistência de lactação: índices de persistência de lactação acima de 90% em rebanhos especializados, mantendo a lactação por 7 a 10 meses; 
  • Docilidade: facilidade de manejo dos animais. 

Neste contexto, a produção de leite de cabra é uma importante alternativa para aumentar a renda do produtor rural, o que é fundamental para a permanência do homem no campo, no entanto, a comercialização do leite é vista como um dos maiores desafios para os produtores no Brasil. Este cenário indica que os elos da cadeia produtiva precisam ser melhores desenvolvidos, uma vez que existe uma demanda de parte da população que possui alergia ao leite de vaca, além da crescente procura por alimentos saudáveis, nutritivos e funcionais, como o leite de cabra. 

Grande parte do leite produzido é utilizada para subsistência e comercializado na própria região, o que não contribui para o desenvolvimento da cadeia produtiva da caprinocultura leiteira. Sendo assim, a organização dos produtores em associações e cooperativas é importante para assegurar volume de produção e regularidade na oferta de leite. Isso permite a adoção de tecnologias que visem agregar valor ao produto, como a instalação de laticínios para industrialização do leite, fabricação produtos lácteos, como leite em pó, queijos, sorvetes, iogurtes e doces, além da fabricação de cosméticos.

Contudo, o sucesso da atividade está intimamente relacionado à qualidade do leite produzido, com impacto sobre o rendimento industrial e qualidade dos produtos lácteos, contribuindo para a conquista e manutenção do mercado consumidor.  

Sendo assim, a produção de leite de cabra, como as demais atividades agropecuárias, exige especialização, planejamento, gerenciamento e comprometimento com a qualidade exigida pelo mercado consumidor, adotando-se tecnologias que estejam adequadas à realidade do produtor, de forma a obter-se o retorno econômico desejado, aproveitando-se da demanda crescente por alimentos saudáveis. 
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Texto extraído de:
Ludmila Couto Gomes & Rodrigo de Souza. Produção de leite de cabra:  oportunidades de negócio e qualidade do leite. Revista Mais Leite, v.16, p.36-40, 2012.

2 comentários:

  1. Muito bem meu velho, ótimo. Aqui no Nordeste é uma boa saída, na real uma ótima, mas tem imensos desafios, mesmo onde, culturalmente as pessoas têm menos resistência aos produtos de caprinos comparando ao Sul/Sudeste.

    O preço, tão atrativo para o produtor, acaba sendo um grande empecilho. Fica a pergunta: A caprinocultura nasceu para ser uma cadeia coadjuvante?

    Assim mesmo, em tom provocativo... Será que vamos fazer da caprinocultura algo como parte da cadeia de orgânicos é? Produtos de grife?

    Se acontecer o que acontece com a cadeia do leite de vaca no PR onde mais de 80% do volume produzido é de produtores com menos de 250L/dia, quem sabe haja uma expansão quantitativa, mas isso ainda não resolve o problema cultural.

    Precisamos começar a montar esse quebra cabeça né amigos..

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    1. Grande Carlos, muito boas suas observações.

      Só não consegui entender o que você quis dizer com "cadeia coadjuvante". Você estaria se referindo a uma atividade secundária dentro de uma propriedade rural?

      Quanto à elitização do consumo, é um nicho de mercado bem explorado. Aqui em Maringá-PR, por exemplo, você encontra no supermercado leite de cabra UHT custando 4x o valor do leite de vaca. Quem compra esse leite?

      Mas será que não existe uma demanda reprimida de pessoas interessadas em consumir leite de cabra caso o valor fosse acessível? Será que esta demanda poderia contribuir para fomentar o desenvolvimento e consolidação da cadeia produtiva? Este me parece ser um GRANDE NICHO que está sendo negligenciado, tanto pela caprinocultura, quanto pela cadeia de orgânicos.

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